Otimismo e Liderança
"Procure ser uma pessoa de valor, em vez de procurar ser uma pessoa de sucesso.
O sucesso é a consequência."
- Albert Einstein
"Procure ser uma pessoa de valor, em vez de procurar ser uma pessoa de sucesso.
O sucesso é a consequência."
- Albert Einstein
O otimismo é atualmente uma das capacidades psicológicas mais significativas no contexto organizacional. Num mundo profissional marcado pela incerteza, exigência de adaptação constante e necessidade de inovação, o otimismo revela-se como um recurso estratégico que influencia diretamente o comportamento, o desempenho e o bem-estar dos indivíduos nas organizações. Para além de representar uma atitude positiva, o otimismo pode ser entendido como uma dimensão da inteligência emocional, na medida em que envolve tanto a regulação das emoções perante a adversidade como a mobilização realista de emoções positivas, contribuindo para o equilíbrio e a resiliência individual.
No contexto das organizações, o otimismo desempenha um papel relevante na construção de culturas de trabalho saudáveis e produtivas, fomentando climas de confiança, cooperação e perseverança. Quando integrado na gestão de recursos humanos, potencia a motivação intrínseca, reforça o compromisso dos colaboradores e estimula atitudes proativas na resolução de problemas. Indivíduos otimistas tendem a definir objetivos mais ambiciosos, a persistir perante obstáculos e a manter níveis elevados de esperança e autoeficácia.
Estas qualidades fazem do otimismo um dos pilares do capital psicológico positivo, conceito desenvolvido por Luthans, Youssef e Avolio (2007), que integra também a esperança, a resiliência e a auto-confiança. Este modelo conceptualiza o otimismo não apenas como uma disposição estável, mas como uma competência desenvolvível, com impacto direto no desempenho e no envolvimento organizacional. A literatura tem evidenciado que níveis elevados de capital psicológico se associam a maior satisfação no trabalho, menor rotatividade e maior resistência ao burnout (Avey et al., 2011). Além disso, constitui uma forma renovável e cumulativa de vantagem competitiva, suportando abordagens de gestão centradas nas forças e potencialidades dos indivíduos, em detrimento de modelos corretivos (Luthans & Youssef, 2004).
Na gestão de pessoas, o otimismo torna-se um critério orientador das práticas de desenvolvimento humano. Políticas de recursos humanos que favorecem ambientes positivos, reconhecimento do esforço, feedback construtivo, oportunidades de aprendizagem e valorização da diversidade são mais eficazes na promoção do capital psicológico dos colaboradores. Tal implica, por exemplo, que a gestão de desempenho não se limite a avaliar resultados, mas também estimule crenças positivas nas capacidades individuais; que os programas de formação e coaching não se centrem apenas nas lacunas, mas também na expansão de talentos; e que os processos de recrutamento valorizem a identificação com valores organizacionais que favoreçam a confiança, a esperança e o crescimento pessoal. Estes princípios requerem lideranças emocionalmente inteligentes, sensíveis aos estados emocionais da equipa e capazes de ajustar a comunicação aos diferentes contextos vivenciados.
Importa sublinhar que otimismo não significa ignorar a adversidade. Pessoas otimistas tendem a adotar um estilo atribucional específico: face a eventos negativos, atribuem as causas a fatores externos, instáveis e específicos, enquanto os pessimistas recorrem a explicações internas, estáveis e globais (Seligman, 2006). Esta forma de interpretar os acontecimentos permite recuperar mais rapidamente dos fracassos, ajustar estratégias e manter o empenho. A sua utilidade prática é evidente, por exemplo, na forma como os líderes gerem o feedback negativo, comunicam após um erro ou projetam objetivos futuros. Neste sentido, o treino atribucional positivo constitui uma ferramenta relevante para a gestão eficaz do otimismo, promovendo explicações alternativas mais realistas e funcionais, que reforcem a motivação e a persistência.
O papel da liderança é determinante na transmissão de crenças positivas e na criação de ambientes mobilizadores. Um líder otimista, ao comunicar uma visão construtiva do futuro com autenticidade, tem maior capacidade para envolver os colaboradores em torno de objetivos comuns e inspirar a superação coletiva. Este impacto é particularmente evidente em dois modelos de liderança com forte suporte empírico: a liderança autêntica e a liderança transformacional.
Segundo Luthans e Avolio (2003), a liderança autêntica baseia-se na coerência entre os valores pessoais do líder e as suas ações. Líderes autênticos distinguem-se pela integridade, transparência, autorregulação e compromisso com o desenvolvimento dos outros. O otimismo, neste modelo, surge como consequência da confiança no crescimento humano e da capacidade de manter uma visão realista mas orientada por possibilidades. A autenticidade do líder manifesta-se na forma como mobiliza, inspira confiança e mantém um discurso coerente, mesmo em cenários adversos (Gardner & Schermerhorn, 2004).
Já a liderança transformacional, conforme definida por Burns (1978) e aprofundada por Bass (1985), promove mudanças profundas tanto nas pessoas como nas estruturas organizacionais. O otimismo reforça o carisma do líder, a sua capacidade de inspirar e a promoção eficaz da autoeficácia nas equipas. Esta liderança valoriza o crescimento pessoal, o desafio intelectual e a construção de um sentido partilhado de missão (Bass & Riggio, 2006). O otimismo, aqui, transcende a esfera individual: transforma-se numa força cultural disseminada pela organização, com efeito agregador e mobilizador.
É importante reconhecer que o otimismo deve ser emocionalmente regulado. Quando infundado ou excessivo, pode tornar-se contraproducente, levando à subestimação de riscos e a decisões mal fundamentadas (Weinstein, 1980). Por isso, o otimismo funcional exige equilíbrio: reconhecer os obstáculos sem os negar, mantendo confiança na capacidade coletiva para os ultrapassar com criatividade, esforço e cooperação.
Investir no otimismo organizacional significa promover bem-estar, sentido de propósito e sustentabilidade. Organizações que cultivam culturas positivas, que reconhecem o erro como parte do processo de aprendizagem e que apostam no desenvolvimento psicológico dos seus colaboradores estão mais bem preparadas para enfrentar os desafios atuais da economia e da sociedade.
O otimismo, quando compreendido como uma competência emocional e cognitiva regulada, representa um recurso fundamental para uma liderança eficaz e sustentável. Exige autorreflexão, maturidade emocional e alinhamento com os valores da organização. Quando sustentado por práticas de comunicação empática, autorregulação e reestruturação cognitiva, o otimismo transforma-se num motor de coesão, criatividade e desenvolvimento organizacional. O seu desenvolvimento pode ser estimulado por diversas estratégias, como o treino atribucional positivo, a promoção de experiências de mestria e a consolidação de culturas de feedback construtivo. Como afirmam Gardner e Schermerhorn (2004), liderar com otimismo é uma competência aprendida e cultivada ao longo do percurso organizacional.
Vídeo – O Viés do Otimismo, por Tali Sharot (TED Talk)
A neurocientista Tali Sharot explora como o nosso cérebro tende a ver o futuro de forma positiva. Este viés pode ser um recurso útil na liderança, desde que regulado com consciência crítica.
Avey, J. B., Reichard, R. J., Luthans, F., & Mhatre, K. H. (2011). Meta-analysis of the impact of positive psychological capital on employee attitudes, behaviors, and performance. Human Resource Development Quarterly, 22(2), 127-152. https://doi.org/10.1002/hrdq.20070
Avolio, B. J., Walumbwa, F. O., & Weber, T. J. (2005). Leadership: Current theories, research, and future directions. Annual Review of Psychology, 60, 421-449. https://doi.org/10.1146/annurev.psych.60.110707.163621
Bass, B. M. (1985). Leadership and performance beyond expectations. Free Press.
Bass, B. M., & Riggio, R. E. (2006). Transformational leadership (2.ª ed.). Lawrence Erlbaum Associates.
Burns, J. M. (1978). Leadership. Harper & Row.
Gardner, W. L., & Schermerhorn, J. R. (2004). Unleashing individual potential: Performance gains through positive organizational behavior and authentic leadership. Organizational Dynamics, 33(3), 270-281. https://doi.org/10.1016/j.orgdyn.2004.06.004
Luthans, F. (2002). Positive organizational behavior: Developing and managing psychological strengths. Academy of Management Executive, 16(1), 57-72.
Luthans, F., Youssef, C. M., & Avolio, B. J. (2007). Psychological capital: Developing the human competitive edge. Oxford University Press.
Luthans, F., & Youssef, C. M. (2004). Human, social, and now positive psychological capital management: Investing in people for competitive advantage. Organizational Dynamics, 33(2), 143-160. https://doi.org/10.1016/j.orgdyn.2004.01.003
Seligman, M. E. P. (2006). Learned optimism: How to change your mind and your life. Vintage.
Sharot, T. (2012, fevereiro). The optimism bias [Vídeo]. TED Conferences. https://www.ted.com/talks/tali_sharot_the_optimism_bias
Weinstein, N. D. (1980). Unrealistic optimism about future life events. Journal of Personality and Social Psychology, 39(5), 806-820. https://doi.org/10.1037/0022-3514.39.5.806